De facto, quem não está? Mas vou evitar uma discussão teológica, misturada com os pontos cardiais, embora lhe reconheça todo o interesse reflexivo (alias, não compreendo e só posso explicar em função de uma certa coação à liberdade religiosa, que ainda subsiste neste país, o facto de o tema ainda não ter sido abordado no programa “prós e contras”…).
Mas, de facto, e provavelmente sem surpresa para algumas mentes mais esclarecidas, a inspiração deste post resulta do “razoavelmente” famoso livro (apesar da imunidade pessoal adquirida aos vírus “Peixoto”, “Pinto”, “Coelho”, não é possível ignorar a epidemia…) de um dos meus autores preferidos: John Steinbeck, o qual, felizmente, como se diz na gíria, não está na moda.. assim como o “paraíso”, embora, novamente, possa haver dialécticas de sustentação recíproca de elevado mérito entre as duas.
Curioso é que o “Leste”, mais do que um trocadilho, é o elemento de encadeamento entre as minhas leituras passadas e as minhas leituras.. passadas, mas recentes.
Alguns devem estar recordados que, no início das minhas férias, iniciei a minha aventura literária pela “Montanha mágica”. A sua leitura estendeu-se por um período mais longo do que o período de ócio e, posteriormente, teve a concorrência de “O terramoto BCP: Toda a história”. Embora não fosse óbvio, entre os dois livros acabam por existir alguns pontos de comunhão. E um dos mais curiosos pontos de comunhão diz respeito ao facto de “leste” ser sinónimo de perversão. No primeiro, é a teoria desenvolvida pelo Prof. Settembrini sobre a influência perniciosa do leste na cultura europeia ocidental, sendo o leste (leia-se, russos e tudo mais a leste… pelo menos até a um certo ponto.. onde o leste toca o oeste!). Sim, não deixa de ser curioso o facto de ser um “humanista italiano” a desenvolver tal teoria. No entanto, seria injusto acusá-lo de “ítalo-centrismo”, partindo da concepção que esse país seria o meridiano primordial. Nos dias que correm, o que não faltam é meridianos primordiais ambulantes.. a precisarem de um bom “paralelo” em cima (.. piada de calceteiro!!). No segundo, o “leste” representa o grupo de accionistas e “stakeholders” que movidos pelos mais elevados interesses, acabaram por dar cabo dos restantes (e dos próprios?).
Para aqueles que gostam de contornar o caminho do paraíso com “bulas papais”, deixo aqui as passagens finais dos referidos livros para reflexão:
“Adeus! Agora vais viver, ou morrer! Tens poucas probabilidades. Este baile macabro a que foste arrastado durará ainda alguns anos criminosos e não queremos apostar muita coisa na tua possibilidade de escapar. Para falar com franqueza, não sentimos grandes escrúpulos ao deixar esta questão sem resposta. Certas aventuras da carne e do espírito, que educaram a tua simplicidade permitiram-te vencer no domínio do espírito aquilo a que não escaparás certamente no domínio da carne. Momentos houve em que nos sonhos tu governavas, viste brotar da morte e da luxúria do corpo um sonho de amor. Será que dessa festa da morte, dessa perniciosa febre que incendeia à nossa volta o Céu desta noite chuvosa, também o amor surgirá um dia?” – “A Montanha mágica”, Thomas Mann
“A verdade, já se sabe, depende onde incide a luz” – “Terramoto BCP – Toda a história”, Maria Teixeira Alves
Estar a leste do paraíso, tal com a leste de uma miragem, acaba por ser uma evidência e uma aparente condenação.
A propósito, a leste do paraíso foi para onde Caim foi renegado após ter morto Abel. E tal faz-me sempre pensar no dilema do “Génesis”: Esquecendo a questão prévia de saber se o paraíso era melhor que o “leste” (quod erat demonstradum…), tivessem ou não sido expulsos, não estaria a espécie humana condenada a “descer da árvore original do incesto”? Ou será que no paraíso, por via do recurso em matéria de direito relativamente à questão prévia, o incesto não é pecado?
Imagino que seja por força dessa intermitência espiritual que, por vezes, tenho a tentação de entrar no “paraíso”. Especialmente quando se sabe que, nos seus portões, há “snipers” e “Anjos Negros”.
Sim, era um trocadilho introdutório para “The sniper at heavens gates” dos Black Angels, os quais, com alguma amarga naturalidade, vão fazer uma digressão pela Europa que não passará por Portugal. Infelizmente, desta vez, penso que não conseguirei contornar o Purgatório para os ir ver ao “Paraíso”…