Foi assim que os “The Big Church of Fire” foram recebidos no aeroporto de Newark por um segurança antes de passarem pelos serviços de fronteira, o que se viria a revelar uma tarefa um pouco mais difícil do que aquilo que estávamos à espera … mas afinal, nós somos uma banda de rock&roll! À nossa espera, um concerto em NYC e dois dias de gravação com Matt Verta-Ray. Mas já lá vamos. Impõe-se começar pelo início!
E o início é o próprio começo dos “The Big Church of Fire”, que, em retrospectiva, explica muita coisa sobre nós, mas acreditem que, nesse momento, jamais nos passou pela cabeça que chegaríamos até aqui. Alguns já conhecem a história, mas here we go again!
Numa bela tarde domingo, no final de Novembro de 2007, após uma noite de rock&roll na óptica do utilizador, enquanto os efeitos da ressaca se faziam sentir, Reverend Joe e Brother Louie descobriam as maravilhas do programa “Garage Band”. E sem saber bem como, numa esplanada de Lisboa, surgiu uma versão “psicadélica/gospel” de “Simpathy for the Devil” dos Rolling Stones.. Mais psicadélica, em abono da verdade.. recomenda-se o visionamento do filme “Simpathy for the Devil”, do Jean-Luc Godard para perceber o sentido da frase.
Em todo caso, no final dessa experiência quase mística, impôs-se uma pergunta: “E porque não formamos uma banda?”.
Dito assim, a pergunta pode parecer completamente banal (e é), mas julgo merecer algum destaque porque talvez tenha sido “A revelação” (infelizmente, um pouco à Paulo Coelho..). Ambos nunca tínhamos tido qualquer banda digna desse nome, nem posto os pés em cima de um palco, com reduzidos conhecimentos de música, estávamos a caminho dos 30, com empregos que implicam muito mais do que “8 horas por dia”, e, segundo os cânones sociais vigentes, deveríamos estar a fazer outro tipo de perguntas, do tipo: quando vou casar, quando terei filhos, quando terei o meu primeiro Audi A8, etc… Mas a resposta não podia ter deixado de ser “Hell yeah, rock&roll brother”. Na altura, estávamos em vésperas de fazer um salto de pára-quedas e tal acabou por servir de epifania para nós: “o céu não é o limite, mas o ponto de partida”. Deixo aqui o desafio: façam um salto de “pára-quedas” logo que possível!
E foi assim que, nos tempos livres que conseguíamos arranjar, na companhia de pizzas e de “Constantino” (uma relíquia do nosso Portugal), foram surgindo momentos de inspiração registados em regime de “first take”. Eram as nossas criações, sem destino pré-definido, mas que começaram a moldar um certo universo musical/e visual que, à falta de melhor, designámos de “porno rock”. Haveria muito a dizer sobre este conceito, mas terá de ficar para outra oportunidade.
Passados alguns meses, e graças às virtualidades do Myspace, a Providência fez uma das suas mais significativas intervenções. Através de uma série de contactos gerados por essa via, chegou um convite: tocar no CAE de Portalegre.
Foi um “momento significativo” porque, na verdade, não tínhamos planeado como transpor aquelas “jam sessions”, um pouco aleatórias, para o contexto de um palco. Quem já passou por essa experiência, sabe que esta é uma primeira vez que intimida. Mas de novo, a epifania do salto de pára-quedas se impôs. Se tínhamos conseguido saltar, não havia razões para não superarmos os receios que pudessem existir quanto a enfrentar um público.
Estávamos em meados de Junho, altura em que, por obra da Providência, conhecemos o Funk Friar (baixista) que acabou por se juntar a nós, pelo que, durante algum tempo, formamos uma espécie de tríptico divino.
Assim, em 12 de Setembro de 2008, demos o nosso primeiro concerto. Aqui fica o vídeo de uma das músicas tocadas.
Não sendo um concerto “brilhante” do ponto de vista técnico (aliás, assumidamente, nós somos muito mais “espírito” do que “técnica”..), foi, sem dúvida, uma injecção fantástica de adrenalina (o facto de uma certa garrafa de JD ter “desaparecido” durante o concerto também terá ajudado). Como sempre, algumas pessoas gostaram, outras nem por isso, mas o mais importante já fazia parte da história: tínhamos dado o nosso primeiro concerto!
Logo de seguida, uma segunda aparição da Providência: um belo dia, na caixa de correio electrónica, sem que tivéssemos feito nada nesse sentido, um convite: tocar no Cabaret Maxime. Ao início, pensámos que se tratava de uma partida. Por brincadeira, costumávamos dizer que o objectivo último da banda seria tocar no Cabaret Maxime. Quem conhece o espaço, saberá certamente porquê. Mas não era brincadeira, o convite era sério. Num abrir e fechar de olhos, a Igreja estava a pisar o ilustre palco do Cabaret Maxime no dia 27 de Novembro de 2008. De novo, do ponto de vista técnico, muitas coisas não foram perfeitas, e provavelmente não poderia deixar de ser assim, tendo em conta o reduzido número de ensaios e a nossa falta de experiência.
Depois deste concerto, tal como depois de se atingir um clímax, deu-se um largo hiato de tempo em que a banda andou um pouco à deriva, procurando definir de forma coesa aquilo que seria a “Doutrina” da Igreja. E, como costuma acontecer, o conceito acabou por moldar a constituição da banda e o Funk Friar deixou o projecto, voltando a Igreja à sua formação original. Houve necessidade de reformular todo o alinhamento para este formato. E com muitas hesitações à mistura, chegamos à primeira experiência ao vivo como “two men band” o que aconteceu em Coimbra, num concurso de música no Rock Café. O kick de adrenalina foi intenso, com o nervosismo da situação a dar lugar ao mais puro feeling rock&roll… o que permitiu que isto acontecesse…
Pela votação, a maioria não gostou, mas uma relevante minoria aderiu ao nosso conceito, com diversas manifestações de apoio que nos fizeram ter a certeza de que aquele era o caminho.
Seguiram-se mais duas experiências em concursos, uma no Jardim da Sereia em Coimbra, numa aparição “à Jorge Palma”, de que felizmente não há registos, e outra no DI Box da qual há este registo.
Chegados aqui, a Providência voltou a manifestar-se. E que bela manifestação. Primeiro, a marcação do concerto do Lakeside Lounge (www.lakesidelounge.com), um pequeno, mas mítico bar de NYC, gerido por Eric Ambel, o não menos mítico guitarrista dos “The Yayhoos”. Tínhamos decidido fazer uma semana de férias em NY e, como noutras ocasiões, surgiu a questão: “E porque não tocar em NY?”. Advertimos que é uma tarefa bastante difícil, especialmente se for realizada com menos de 3 meses! Fica o conselho! Um dia: “You got mail”! Do próprio Eric Ambel, no qual nos convidava a tocar no dia 29 de Junho. O milagre estava materializado.
Mas um milagre maior ainda estava à nossa espera. De novo a Providência, uma sequência de felizes coincidências, a interferência de um “Alto Patrono” e sem sabermos bem como estávamos a combinar dois dias de gravação com Matt Verta-Ray (Heavy Trash, Speedball Baby, que produziu Tédio Boys e, meses antes, algumas músicas com o The Legendary Tiger Man), após termos recebido alguns dos elogios mais significativos à nossa música.
E nesta velocidade vertiginosa, chegamos ao aeroporto de Newark no dia 26 de Junho de 2009. O que aconteceu a partir daí fica para a 2ª parte.